


Clínica
A psiquê humana é um mistério. Composta por pensamentos, memórias, emoções e desejos, compreendê-la é uma tarefa intrigante e exigente, tornando-se o trabalho de uma vida. Para escutar este infinito particular, requer-se atenção e profundidade, tendo na ética, no sigilo e no acolhimento, os preceitos essenciais de um trabalho clínico.
A clínica psicanalítica, neste contexto, pode ser um espaço de transformação. Num processo terapêutico, histórias, palavras e silêncios encontram a possibilidade de escuta, e uma nova forma de existir desponta no horizonte. O encontro entre terapeuta e paciente torna-se um acontecimento inédito, inaugurando novas formas de relacionar-se consigo, com os outros e com o mundo.
A este ofício íntimo e revolucionário dedica-se a clínica.
A escuta psicanalítica volta-se ao inconsciente, uma instância da nossa vida psíquica que revela-se misteriosa e enigmática, detentora de histórias, conflitos, desejos e impulsos. Para escutar estas profundezas, estabelece-se um espaço seguro e sigiloso para que o paciente sinta-se à vontade para expressar livremente seus pensamentos, sentimentos e associações.
Nas sessões, o paciente é convidado a falar livremente sobre o que vier à sua mente, sem censuras ou filtros. Através deste método, a qual Sigmund Freud nomeou associação livre, aspectos da vida psíquica do paciente podem emergir para serem cuidadosamente trabalhos. Freud, em O início do tratamento (1913), escreve:
“Portanto, diga tudo o que lhe vier à mente. Comporte-se, por exemplo, como um viajante que está sentado à janela do trem e descreve para seu vizinho, alojado no interior, como se transforma a vista ante seus olhos”.